sábado, 1 de agosto de 2009

Don Toté Benitez

Ciclo da erva-mate, o ciclo da vida. Cada um deles passa sem que a gente perceba. ‘Caraí’ Toté Benitez foi uma dessas pessoas diferentes. Não passou, nem passará. Construiu uma família em torno da erva-mate, erigiu um museu só para guardar suas histórias, forjadas no cheiro forte da erva, nas mãos calejadas com a colheita da qual fazia questão de participar, junto com vários ‘hermanos’ que o acompanharam grande parte de sua passagem por esta vida. O tempo foi passando, passando, mas ele continuava lá! Firme e forte, acompanhando feliz a massificação do produto que ajudou a construir: a erva para tomar tereré. Deu até no Jornal da Globo, no Fantástico, uma roda de jovens tomando tereré e dissertando sobre a globalização e o avanço da internet. Quem iria imaginar isso? ‘A vyáy terey’ (estou muito feliz). Deu orgulho ver minha mãe dizer: ‘aí vunito!’. “Olha lá eles tomando tereré em Brasília!”, com seu linguajar meio guarani, meio ‘portunhol’. Lá estava Don Toté, sorrindo com o canto da boca quando alguém lhe contou. E nessa hora talvez um filme tenha passado por sua cabeça, fazendo-o retornar ao passado, nos tempos áureos do transporte em carretas de juntas de boi. Tudo era artesanal. Ainda no beneficiamento tudo era rústico, a desidratação (secagem) e o ‘cancheamento’ (fragmentação) da erva-mate. A secagem era feita no chamado ‘carijó’, com as chamas atuando diretamente sobre a erva. Evoluiu-se depois para o ‘barbaquá’, casinha com armações de madeira onde os ramos sapecados recebem o calor por canal subterrâneo e finalmente para o secador mecânico, que também vem sendo aperfeiçoado. Já a trituração do material, no sistema artesanal, acontecia após a secagem, inicialmente com facões e depois com moendas de madeira. Entre seus hábitos naquela época, dizia sempre Don Toté, tomava-se o tereré, em um pequeno ‘porongo’, por meio de um canudo de taquara, que tinha na base um trançado de fibras para impedir que as partículas das folhas fossem ingeridas. Os guaranis chamavam-na de ‘caá-y’ (água de erva saborosa). Hoje em dia este hábito continua popular nestas regiões, consumido como chá quente ou gelado, ou como chimarrão, principalmente Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina e tereré especialmente Mato Grosso do Sul, Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, no Paraguai. Foi assim que neste filme de sua vida, ele teve realizado o maior talvez de seus sonhos. Após toda uma vida dedicada à erva-mate, Don Toté nos deixou. Talvez esteja hoje caminhando alegremente pelas verdes matas forradas de erva-mate, fiscalizando sua qualidade para produzir o sabor inigualável da sua Erva Mate Santo Antônio. José Benitez Cardenas nasceu em 19 de março de 1916, em Concepción (Paraguai) e morreu neste 27 de agosto de 2007, com 91 anos, deixando os filhos João Benitez, Maria Senia Benites e os netos César, Paulo César, Marisa e Marcelo Giummarresi. Destes, Paulinho Benites é o neto que tem mantido a tradição do avô e depois do pai, na produção e industrialização da erva-mate.
NOTA:
Texto do Irmão Marcelino Nunes que é membro da ARLS Ponta Porâ nº 2303 – GOB-MS, Bacharel em Direito, pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior, vereador em Ponta Porã e estudioso da cultura fronteiriça. E-mail: marcelinonunes@ibest.com.br